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Que necessidade é essa de ter receita para tudo?

Porque as pessoas insistem tanto na busca contínua pela receita que o levará à conquista que deseja?

‘7 dicas matadoras para você conseguir um emprego’, ’10 passos para conseguir o emprego dos seus sonhos’, ‘37 estratégias para se sair bem em uma entrevista de emprego’, ‘57 coisas que você deve fazer para conquistar o chefe’, ‘101 jeitos para você convencer as pessoas de que o cachorro é gato’, ‘Seu trabalho de volta em 7 dias’... e mais inúmeros títulos que passam receitas prontas de como alcançar o resultado que você tanto almeja.

Com tantas informações maravilhosas, como ainda temos mais de 10 milhões de desempregados no Brasil?

Apesar de alguns pais contarem aos filhos que foi a ‘cegonha que os trouxe para o papai e mamãe’, posso estar desinformada, mas nunca ouvi dizer que havia um manual de instruções perto da fralda, informando como lidar com o novo ser humano à sua frente. Assim como não tenho ciência dos bebês receberem uma cartilha, informando como lidar com seus pais.

Se mesmo os gêmeos univitelinos, nascidos com poucos segundos de diferença, nutridos pelo mesmo leite, vestindo as roupas com o mesmo tecido, vendo e ouvindo seus pais ao mesmo tempo, criados na mesma casa e pisando no mesmo piso, não são iguais, porque as pessoas insistem tanto na busca contínua pela receita que o levará à conquista que deseja?

Vejo campanhas contínuas para respeito às diferenças, busdoor com mensagem de que ‘ser diferente é normal’, palestras e lições dos direitos humanos pregando o individualismo. Pessoas lutando diariamente para serem reconhecidas e tratadas como ser único, retaliações às empresas que consideram os colaboradores como ‘um número de matrícula’, estudos para a valorização do ser humano. No entanto, vejo em uma proporção bem maior a quantidade de receitas milagrosas que prometem determinado resultado e, em número ainda maior, pessoas que buscam passo a passo, os detalhes, as regras para conquistar o que desejam.

Engraçado como em um momento a maioria deseja a individualidade e no segundo seguinte desejam receitas para saber lidar com as coisas, pessoas e situações.

O conhecimento, a troca, a leitura, são ferramentas essenciais para lidarmos com as dificuldades diárias. Dicas são importantes, norteadores são necessários, aprender com o estudo acadêmico é vital, mas o que nos torna ‘únicos’ é exatamente a capacidade individual de lidarmos com as situações. A regra de um pode servir para o outro, mas quando da vivência diária, acessando a cultura, os valores, os sonhos de cada um, a regra pode ter que sofrer exceções, e assim conseguirmos viver em comunhão, flexibilizando e aprendendo sempre em cada situação.

Leia, aprenda, ande sobre brasas ou cacos de vidro, mas entenda que o agora vira passado em um milésimo de segundo, e o que funcionou para uma pessoa pode não funcionar mais para você. Tenha bom senso, criticidade, linha de raciocínio antes de executar cada dica e receita matadora que ler ou escutar de alguém.

Não seja simplesmente um executor do estudo dos outros. Não seja marionete de sessões ‘empoderadoras ou motivacionais’ que o mercado oferece. Viva a sua verdade, a sua realidade, a sua escolha!